Resenha – A família Mandible – Lionel Shriver
Hoje é dia de falar do livro que veio na caixa 028 (janeiro/21) do Clube Intrínsecos, A família Mandible (444 páginas), uma distopia da autora Lionel Shriver que se passa no período entre 2029-2047 e mostra o colapso financeiro dos EUA levando a tão conhecida potência mundial à bancarrota.
A economia mundial foi reestruturada, a União Europeia não existe mais e a China é a nova potência. Uma nova moeda é lançada, o bancor, com a promessa de facilitar as transações internacionais. Mas os EUA se negam a aceitar o bancor, bem como reconhecer que o dólar já não vale quase nada. Água potável é um luxo. Comprar um mero repolho passou a ser um desafio com a inflação fora de controle (20 dólares em um repolho, o que acha?) E quando o governo confisca todas as reservas de dinheiro e ouro dos americanos, o caos efetivamente se instala.
Nesse cenário apocalíptico, vamos acompanhar a trajetória da família Mandible, que vivia “muito bem obrigada”, contando com seu status e com a fortuna do patriarca, o MGM, Magno Gran Man, ou Douglas Mandible. Mas infelizmente, toda a riqueza de MGM também foi pulverizada com a crise e esse homem, no auge de seus 90 e poucos anos, vai conhecer o que é a pobreza.
Sem ter como se sustentar, vários parentes buscam abrigo na casa de Florence, aquela que, anteriormente, mantinha a vida mais simples, mas que conseguiu conservar seu emprego em um abrigo por ser funcionária pública, e se torna o arrimo de família por falta de opção melhor. Florence tem um filho adolescente chamado Willing, que foi um dos meus personagens favoritos. E conta com seu marido Esteban, um mexicano que se mudou para os EUA.
Aos poucos sua casa, que já abriga o inquilino Kurt, passa a também virar um abrigo. Sua tia Nollie volta da França direto para lá, sua irmã Avery se muda com o insuportável marido, Lowell e seus três filhos: Goog, Savannah e Bing. Posteriormente seus pais, junto com o avô, Douglas Mandible e sua debilitada esposa completam o time.
A narrativa é acida e cheia de críticas ao sistema e ao comportamento humano, bem como descrições econômicas. Vemos a influência dos avanços tecnológicos com os telafleX e a quase extinção dos livros físicos. Nas escolas, nem sequer é ensinado aos alunos a escrever.
Também é abordada a questão da imigração e xenofobia. Quem diria que agora seria o México que fecharia as fronteiras com os EUA?
Essa é uma trama interessante e bem trabalhada, que compensou o fato de os capítulos serem enormes, único ponto negativo para mim.
O final me surpreendeu e fez todo o sentido para o cenário que foi construído. A família Mandible é uma daquelas leituras que continuam nos trazendo bile à boca mesmo depois que terminamos. E nos faz questionar o quão perto estamos dessa realidade.
A edição do intrínsecos veio com uma folha guarda super bonita, e a cor do mês também é linda, embora eu não saiba definir exatamente qual é. Gostou da resenha? Ficou curioso pra fazer a leitura?