Resenha – Kindred -Laços de Sangue – Octavia E. Butler
E lá vou eu tentar fazer a resenha desse livro MARAVILHOSO! Quem me acompanha no instragram (@capivararesenha) viu que eu finalizei Kindred dias atrás e posso dizer que ainda não terminei de digerir essa estória!
Aliás… começo já falando sobre isso… O que será que faz um livro se tornar clássico ou ser aclamado e favoritado por tanta gente? Eu penso que um dos requisitos principais seja a capacidade de continuar falando com a gente mesmo depois do término da leitura. E é isso que Kindred fez comigo. Ainda estou imersa na trama, ainda estou pensando sobre tudo que li e acredito que o enredo com certeza me fez ressignificar muitas coisas.
Mas vamos começar pelo começo, não é mesmo? Kindred- Laços de Sangue foi escrito pela autora Octavia E. Butler, que é conhecida como “a grande dama da ficção científica”. Esse foi meu primeiro contato com a escrita dela, mas já deu pra entender o porque. A escrita é daquelas que flui bem e já nos envolve desde as primeiras linhas. Pelo que andei pesquisando, as estórias da Octavia sempre inserem questões de racismo, preconceito, desigualdade e protagonismo feminino, com personagens complexos e muito bem trabalhados.
Eu com certeza vou querer ler os outros livros dela, que são publicados no Brasil pela Editora Morro Branco. [Detalhe que esse foi o meu primeiro contato com a editora também e eu fiquei impressionada com a qualidade da edição, como pretendo mostrar nessas fotos! ]
Vou falar sobre o livro e não pretendo dar spoiler, mas como estou muito empolgada e se você não quer saber muito sobre o enredo antes de ler, talvez seja melhor pular para as considerações finais.
Na trama temos nossa protagonista, Dana, uma mulher negra que vive nos EUA dos anos 1976. Dana é escritora, casada com o também escritor Kevin, um homem branco. No dia de seu aniversário de 26 anos enquanto organizava o seu novo apartamento, para o qual acabara de mudar, ela se sente mal, e após um momento de tontura, se dá conta de que não está mais em sua casa, e sim em uma floresta, a beira de um rio onde uma criança está se afogando.
Mesmo sem entender o que aconteceu, Dana salva a criança, porém não entende a reação hostil dos pais dela, que ao invés de agradecê-la, a colocam em perigo de vida. Da mesma maneira inexplicável com que chegou nessa floresta, Dana volta para seu apartamento completamente aterrorizada. Seria difícil esquecer o que aconteceu, mas ela nem mesmo tem essa chance, pois a situação volta a acontecer de novo, e de novo e de novo…
Dana descobre, em outras de suas viagens, que está em 1815, um período escravocrata extremamente perigoso para uma mulher negra e sozinha. Ao que tudo indica, sempre que aquela criança que ela salvou do afogamento está em perigo, Dana viaja no tempo. A criança em questão se chama Rufus, mas por que sua segurança depende de Dana? Que tipo de laços existem entre essas duas pessoas que vivem em tempos tão diferentes?
Não poderei falar muito mais do enredo sem entregar algumas reviravoltas que merecem ser lidas e sentidas por vocês. Mas vale citar aqui o contexto dos EUA do século XIX, mais precisamente de uma Maryland pré-Guerra Civil, para onde Dana é levada sempre que volta no tempo… Esse é um período marcado pela escravidão e pelos horrores praticados ao povo negro. E na casa onde Dana vai parar não é diferente. Vivenciar todos os tipos de abusos praticados pelos brancos é bem diferente do que saber dele pelos livros e Dana, que num primeiro momento tentava encenar uma personagem até voltar à sua “vida normal” não consegue se desvincular de toda a luta e dor que vê seu povo sofrer.
As chibatadas que cortaram a carne preta dos escravos também marcam o leitor. Eu chorei lendo esse livro em diferentes momentos. Senti a ansiedade por saber que algo ruim estava para acontecer. Senti o medo e a revolta quando acontecia. Como leitora eu sonho com a representatividade preta nos livros sem que haja essa carga de dor. Mas ela é necessária. Todos nós sabemos como o período de escravidão foi vergonhoso e desumano, mas a sociedade continua perpetuando o preconceito. Se não fosse assim, não teríamos todos os dias tantos casos de racismo e discriminação.
E é por isso que essa obra é tão potente! Ela incomoda e nos faz refletir. Ela nos apresenta personagens humanos em suas melhores e piores faces. E falando em personagens, todos eles têm muita importância, seja para amar ou odiar (ou ambos)
Falando sobre a questão de ficção científica, que é um gênero que não leio muito, mas sempre me surpreende, essa obra cumpre o que se propõe com maestria.
Entender como o tempo passa de maneira diferente entre os dois “mundos” e como e porque eles se interligam é fantástico.
O final é impactante e eu não vejo como poderia ser diferente, pois todo o enredo e todas as ações e desdobramentos das personagens são construídas para esse desfecho, que como já disse lá no começo do post, não acaba com o término da leitura. Em resumo… vocês vão me ouvir panfletar Kindred por muito tempo ainda, pois essa estória já conquistou seu lugar permanente no meu ranking de leituras!
Já ouvi falarem bastante desse livro, porém eu sou uma pessoa meio preguiçosa para livros hypados demais! No entanto, depois de saber que a estória é uma ficção científica… Aí sim agora darei uma chance. O enredo e a trama parecem ser daqueles que prendem o leitor e nos faz querer e pedir por mais!
Karolini Barbara
@karolinibarbara_